Posso não te conhecer de A a Z, mas conheço-te de A ao fim do mundo. Isso mesmo. Não conheço só a tua cara de sono e de prazer, não conheço só a tosse nervosa antes de provares que estás certo. Não. Não conheço só o olhar de miúdo quando erras ou o sorriso que escapa quando me olhas. Eu conheço aquilo que tens medo de dizer a ti própro. Conheço-te os 10 mandamentos e os 100 pensamentos, conheço-te os pecados e as bem aventuranças, conheço-te os medos e o medo que tens de ter medo. Abri o fecho eclair da tua alma e revirei-lhe os bolos. Não existem truques na manga nem mangas no corpo nu dos que se entregam. Pintaste um retrato a cores do que a vida te desafia a ser todos os dias, mas é no meu colo que vejo os traços de carvão, simples. baços, inacabados. Um desenho encaminhado mas ainda a meio de ser feliz ou triste. Eu pinto o esboço das cores que quiseres. Eu invento cores, se quiseres. Eu não te conheço de A a Z, eu conheço-te de A ao inferno, de A ao orgasmo, de A até às tentativas vãs de te dizer adeus. Tu conheces-me de A a tua, de B a tua, de C a tua, de Z a tua e de A ao fim do mundo. Eu não conheço só o que os outros decoraram, eu conheço coisas que nem sabes, conheço o fundo do fundo de ti. Eu sem quem és. Eu sem sempre quem és. Mesmo quando tropeças na vala do mais fácil, mesmo quando te desvias do teu centro, eu sei quem és e do meu sopro sai sempre o vento favorável à rota que te entrega a bom porto. Às vezes abraças-me e outras deitas-me a língua de fora. Eu sem que não sabes mas é isso que faz o teu coração. Não te preocupes, o meu dá-lhe beijos apaixonados e calducos para te lembrar, todos os dias, que existe paz em terrenos minados, que de A a Z não chega para ser amor porque o amor não tem letras que o digam, poemas que o cantem, mãos que o mostrem. Porque te amo, de A ao fim do mundo, de A ao fim de tudo.

Carolina Deslandes